Dimensionamento da Seção Transversal de Cabos para Aplicações Móveis: Uma Análise Criteriosa

O dimensionamento correto da seção transversal de um cabo elétrico é um dos pilares para a segurança, eficiência e longevidade de qualquer instalação, especialmente em sistemas móveis submetidos a condições operacionais severas. A simples seleção baseada na corrente nominal de operação é insuficiente e pode levar a falhas prematuras e paradas não programadas. Uma abordagem técnica rigorosa exige a análise da capacidade de condução de corrente sob as condições reais de serviço, aplicando fatores de correção que reflitam a realidade da instalação.

 

Metodologia de Derating: Ajustando a Capacidade de Corrente às Condições Reais

 

A capacidade de condução de corrente (ampacidade) de um cabo é intrinsecamente ligada à sua capacidade de dissipar o calor gerado pelo efeito Joule (). Qualquer fator externo que limite essa dissipação térmica exige uma redução (derating) da ampacidade nominal. Os principais fatores a serem considerados são:

  • Temperatura Ambiente Elevada: A norma de referência para a ampacidade de cabos geralmente considera uma temperatura ambiente padrão (ex: 30°C no ar). Operar em ambientes com temperaturas superiores reduz o gradiente térmico entre o cabo e o meio, comprometendo a dissipação de calor. Fatores de correção de temperatura, especificados em normas técnicas e pelas tabelas do fabricante, devem ser rigorosamente aplicados para garantir que a temperatura máxima de operação do condutor não seja excedida.
  • Instalação em Bobinas (Carretéis Enroladores): Esta é uma condição crítica para cabos móveis. Quando um cabo é enrolado em múltiplas camadas sobre um tambor, as camadas internas sofrem um severo confinamento térmico. Elas são isoladas pelas camadas externas, impedindo a convecção e radiação eficazes do calor. Este efeito cascata pode elevar drasticamente a temperatura dos condutores internos, tornando imperativa a aplicação de fatores de correção específicos para o número de camadas e a disposição das voltas. Ignorar este fenômeno é uma causa comum de degradação da isolação e falha do cabo.
  • Agrupamento de Condutores e Cabos: A instalação de múltiplos cabos em proximidade (em esteiras, leitos ou feixes) cria um efeito de aquecimento mútuo. Cada cabo contribui para o aumento da temperatura ambiente local dos cabos adjacentes. Fatores de correção por agrupamento são essenciais para limitar a corrente total e prevenir um superaquecimento generalizado do conjunto.

 

Além do Regime Contínuo: O Impacto do Ciclo de Trabalho (Duty Cycle)

 

É fundamental analisar o regime de operação do equipamento. Sistemas de operação intermitente (não contínua), com ciclos de carga e repouso bem definidos, permitem que o cabo dissipe calor durante os períodos de inatividade. Esta característica pode permitir a otimização da seção transversal do condutor, resultando em economia de custos e redução de peso. No entanto, essa otimização exige um cálculo criterioso do RMS da corrente e uma análise térmica detalhada do ciclo de trabalho, garantindo que os picos de corrente não causem estresse indevido ao sistema.

 

Análises Complementares Essenciais

 

Com a crescente demanda por maiores distâncias operacionais em sistemas móveis, duas verificações tornam-se indispensáveis:

  1. Queda de Tensão (Voltage Drop): Em longos comprimentos, a queda de tensão pode se tornar o fator dimensionante, superando a própria ampacidade. Uma queda de tensão excessiva pode causar perda de eficiência, mau funcionamento de motores e componentes eletrônicos sensíveis e, em casos extremos, a incapacidade do equipamento de operar sob carga. A verificação é crucial não apenas para sistemas de baixa tensão, mas também para aplicações de média e alta tensão, onde a magnitude da potência transmitida intensifica as perdas.
  2. Suportabilidade a Correntes de Curto-Circuito: A infraestrutura elétrica deve garantir que os cabos suportem os efeitos de um eventual curto-circuito até a atuação dos dispositivos de proteção. Esta análise se divide em dois aspectos críticos:
    • Estresse Térmico (): A imensa energia liberada durante um curto-circuito eleva a temperatura do condutor de forma quase adiabática. O cabo deve possuir uma seção transversal suficiente para suportar essa elevação de temperatura sem fundir o condutor ou degradar a isolação.
    • Esforços Eletrodinâmicos: As correntes de curto-circuito geram forças mecânicas extremamente elevadas entre os condutores. O cabo e suas conexões devem ter robustez estrutural para resistir a essas forças sem sofrer danos físicos que comprometam a integridade do sistema após a falha.

Conclusão: O dimensionamento de cabos para aplicações móveis transcende a simples aplicação de fórmulas. Exige uma análise holística que considera o ambiente, o método de instalação, o regime de operação e os cenários de falha. Um projeto bem executado não apenas garante a conformidade com as normas, mas também maximiza a vida útil do ativo, aumenta a confiabilidade operacional e otimiza o investimento.

Precisa de suporte técnico para especificar o cabo ideal para sua aplicação? Consulte nossos especialistas e garanta a performance e a segurança do seu projeto.

CALCULO DA SECÇÃO TRANSVERSAL DO CABO

Artigos Relacionados

STANDARDS

Padrões de cabos britânicos BS4737-3.30:1986 Sistemas de alarme contra intrusão. Especificação para cabos isolados em PVC para fiação de interconexão

Leia Mais »

Envie uma mensagem ao especialista

Produtos